9 de julho de 2010

O amor à periferia



A tendência do capital é de acumular, não de se distribuir. Essa característica leva os mercados a gerarem assimetrias regionais, produzindo uma série de CENTROS e PERIFERIAS que vão do macro internacional (EUA, o grande centro) até relações regionais (São Paulo é o centro brasileiro, por exemplo). Também forma as disfunções sociais, onde poucos ricos lucram muito e toneladas de pobres vivem com o mínimo. Logo, cada um de nós, na sua busca profissional, se aproxima do centro para ganhar melhor ou ter sucesso. É natural ir para o centro. Entretanto, contrariando toda a lógica, Jesus Cristo sempre seguiu o caminho inverso. Ele buscou a periferia.

Pra começar, a história da salvação começa num minúsculo povo da periferia do Império Romano. O grande centro era Roma, as coisas aconteciam na península itálica e na Grécia clássica. Os judeus eram uma insignificante população que foi facilmente incorporada à máquina administrativa romana. Mas foi naquele povinho que Deus decidiu apresentar o Messias. O Filho de Deus nasceu na beirada do mundo…

Além de nascer afastado do “centro mundial” (Roma), Jesus também manteve distância segura do centro regional da Palestina, que era Jerusalém – para onde acorriam os pregadores e grandes sábios. Ele viveu sua infância e juventude na Galiléia, uma região menosprezada (veja João 7.52). Quando iniciou seu ministério, radicou-se em Cafarnaum, pequeno entreposto romano de cobrança de impostos que ficava ao norte. De lá, partia para suas viagens missionárias na Peréia, Galíléia e Decápolis (região helenizada também desprezada pelos judeus). Suas idas a Jerusalém foram pontuais: para comparecer às festas religiosas obrigatórias que sempre redundavam em acalorados debates com os poderosos da religião oficial.

Jesus foi ao encontro dos rejeitados nas periferias. O foco de seu amor eram aqueles que não poderiam dar qualquer “retorno de investimento”: pobres, viúvas, doentes, prostitutas e alguns malandros dos quais jamais gostaríamos de nos aproximar. Isso sem falar nos que realmente deixavam os judeus com náuseas: os feios-sujos-maus-samaritanos. Não, Jesus não foi buscar o sucesso em Jerusalém. Ele foi ao centro apenas para ser crucificado.

Toda vez que mergulho um pouco na vida de Jesus e em como ele se relacionava com a periferia, me sinto um tanto envergonhado. Meus olhos estão se fechando para o hecatombe social que ocorre ao meu redor. Estamos nos blindando do problema social que nosso modo de viver criou atrás das muralhas dos nossos condomínios. E reclamamos que nossos governos não nos dão segurança, não nos protegem da periferia…

Em minhas viajens pelo Brasil, fiquei um tanto chocado com o estado lastimável de muitos mendigos. Mas isso foi anos atrás: há muito que estou anestesiado para a miséria humana. Preciso urgentemente “ir e aprender o que significa: misericórdia quero, e não sacrifício” (Mateus 9.13). Fazer essa loucura que Jesus fez de ignorar o centro e amar a periferia. Não deixar que a miragem do centro – onde necessitamos, infelizmente, buscar nosso sustento – nos cegue para a realidade. Pelo menos para equilibrar um pouco as coisas neste estranho mundo em que vivemos.


Fique em Paz!




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